quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Evolução Nem Sempre É Para Melhor



por Mario Sergio Cortella

O autoconhecimento é um processo necessário e fundamental para a melhoria de si mesmo--um processo interminável, pois tudo o que acontece a nossa volta nos afeta e nos transforma. Mas, quando pensam em autoconhecimento, geralmente as pessoas cometem um equívoco, pois associam autoconhecimento à evolução, necessariamente, como aperfeiçoamento.
Não é assim. Nem toda evolução significa uma mudança para melhor. Na cabeça da maioria das pessoas, a palavra evolução também está associada ao Darwinismo. Mas o fato é que Darwin tinha vergonha de usar o termo evolução. Em seu diário, ele prefere usar a palavra transformação, e só usava evolução no sentido de mudança. Ele fala apenas que as espécies se transformam---algumas inclusive para pior, pois desaparecem. O câncer evolui, as encrencas, os problemas, os confrontos evoluem, e ninguém pode dizer que isso é uma coisa boa.
O século 20 no Ocidente foi marcado por essa ideia equivocada da evolução como melhoria. Esse equívoco começa a nascer no Renascentismo, que introduz o antropocentrismo.
O "homem moderno" fala em evolução sempre acreditando que todos nós estamos avançando e rumando para um ponto ideal, aquele que o teólogo francês Pierre de Chardin chamou de Ponto Ômega, que seria o ápice da Vida e da Criação. E, quando o homem passa a enxergar a evolução como uma caminhada rumo à perfeição, acaba mergulhando no território da obsessão evolucionista e derrapando no raciocínio equivocado de que, se nós evoluímos, estamos indo todos em direção a um futuro melhor.
A grande encrenca é que isso só dificulta a compreensão de muitos problemas, inclusive a questão ecológica.
Se nós acreditarmos que a humanidade sempre evoluirá para melhor, a tendência é esquecer a natureza deletéria do homem, esquecer que ele é um animal destrutivo. Assim, até a própria noção de ecologia fica prejudicada, uma vez que as pessoas cultivam uma esperança vã de que a humanidade só vai melhorar e que, portanto, todos os transtornos causados pelo homem---efeito estufa, mudanças climáticas, poluição, o desequilíbrio da vida---são ritos de passagem para um mundo melhor. É como se a humanidade acreditasse que em algum momento da existência haverá uma purificação natural e incontestável do homem.
Bem, no mínimo, isso é uma postura arrogante e, certamente, errada. É preciso ter esperança, mas não tem cabimento não faz nada para mudar a situação e achar que, por pior que seja, vai melhorar no final.
Essa postura ameaça não só a ecologia mas toda a convivência de maneira geral, pois desliga um item imprescindível à sobrevivência e a civilização, que é o alarme.
De maneira geral, nossas medidas de prevenção existem para nos fazer prestar atenção em um perigo.
Mas há uma enorme diferença entre a pura espera e ter realmente esperança, ir atrás das coisas, fazê-las acontecer.
No fundo, de certa maneira, o século 20 atormentou o mundo com a ideia de que tudo dará certo para o homem, uma ideia levada à alma popular pelo escritor Fernando Sabino quando disse que "no fim tudo dá certo; se ainda não deu certo, é porque ainda não chegou no fim".
Esse otimismo, porém, não muda o fato de que, assim como houve um começo, haverá um fim---não necessariamente da vida em si, mas talvez da nossa espécie, dizimada por catástrofe natural, meteoro, bomba, ignorância, vírus ou coisa parecida.
É por tal razão que evolução não necessariamente é melhoria---e nem autoconhecimento. Muita gente acha que se conhece bem e que é a melhor companhia para si mesmo, sem perceber que pode estar sozinho e mal acompanhado.
Isso acontece quando as pessoas se alienam, quando não têm clareza daquilo que fazem, quando produzem aquilo que o escritor Eduardo Giannetti da Fonseca usou como matéria-prima em um ótimo, Auto Engano. O auto-engano é o escondimento e a dissimulação de si mesmo.
Distraídos, perguntam alguns, alarme? Já soou?
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Cláudia Maria Piasecki
cmpiasecki@bol.com.br