quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O que é um transtorno alimentar?



por Antonio Leandro Nascimento
www.abpcomunidade.org.br

Transtornos alimentares são doenças que causam graves alterações na maneira como as pessoas comem e nos pensamentos e sentimentos relacionados à alimentação.
As pessoas que têm transtornos alimentares geralmente preocupam-se de maneira exagerada com a alimentação, com seu peso e forma corporal. Os transtornos alimentares afetam principalmente mulheres de 12 a 35 anos de idade, porém também podem ocorrer em mulheres de outras faixas etárias e em homens. Os dois tipos principais de transtorno alimentar são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa.
As pessoas que apresentam Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa tendem a ser extremamente críticas sobre seus corpos. Elas geralmente sentem-se gordas, mesmo que estejam muito emagrecidas e desnutridas. Elas também podem apresentar medo intenso de engordar e isto pode afetar todas as suas atividades. Frequentemente, os portadores de transtornos alimentares não reconhecem que têm um problema de saúde.
Em alguns casos, os transtornos alimentares estão relacionados a outros transtornos e problemas psiquiátricos, como a depressão, o transtorno obsessivo-compulsivo e o abuso de álcool ou outras drogas. As pesquisas realizadas até o momento sugerem que há traços hereditários nos transtornos alimentares, porém estas doenças também podem aparecer em famílias que não apresentam nenhum outro caso de transtorno alimentar. Sem o tratamento correto, os pacientes podem desenvolver problemas nutricionais, dentários e cardíacos, alguns deles potencialmente fatais. Entretanto, o tratamento psiquiátrico pode proporcionar a estas pessoas o retorno a hábitos alimentares saudáveis e a um estado de saúde física e emocional.

Tratamento

O tratamento dos transtornos alimentares envolve a participação de diversos profissionais, com diversas técnicas. Habitualmente, o tratamento envolve o atendimento médico realizado por psiquiatras, com prescrição de medicamentos e psicoterapia e também por outros especialistas, como endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos, que auxiliarão o paciente a recuperar os hábitos alimentares saudáveis. Através do tratamento adequado, os indivíduos portadores de um transtorno alimentar podem recuperar seu bem-estar e sua autoestima sem que o peso e a forma corporal sejam os valores mais importantes da sua vida.

Anorexia Nervosa

A Anorexia Nervosa afeta cerca de 0,51% das mulheres jovens. Este transtorno é diagnosticado quando as pacientes apresentam um medo constante de engordar, mesmo estando com um peso abaixo do normal. Com isso, as alterações de comportamento apresentadas por essas mulheres podem envolver a restrição alimentar extrema ou o uso de medidas para compensar as poucas calorias ingeridas através da alimentação, seja através da alimentação, seja através de exercícios exagerados, de vômitos forçados ou uso de laxantes.
A restrição alimentar pode causar alguns efeitos danosos ao corpo, tais como:

*Interrupção da menstruação

*Osteopenia ou osteoporose

*Alterações no aspecto das unhas e do cabelo

*Pele seca

*Anemia

*Constipação (dificuldade para evacuar)

*Redução da pressão arterial

*Queda da temperatura do corpo

*Desnutrição

*Depressão e letargia


Bulimia Nervosa

A Bulimia Nervosa é caracterizada por episódios em que a pessoa come, em um curto período de tempo, uma quantidade muito grande de comida, superior a que uma pessoa de mesma idade, constituição e peso comeria, por vezes engolindo sem mastigar, sem saborear, misturando diversos tipos de alimentos ou ainda comendo comida gelada. Estes episódios normalmente são interrompidos pela chegada de outra pessoa, ou quando o paciente fica tão exausto que dorme cansado de tanto comer, ou ainda quando o estômago, de tão distendido, começa a doer. Depois destes episódios de exagero alimentar, os portadores de Bulimia Nervosa costuma realizar episódios de compensação para tentar evitar o ganho de peso, como provocar vômitos ou usar um laxante. Estes comportamentos normalmente ocorrem fora das vistas de outras pessoas, pois costumam causar vergonha de desconforto e não costumam ser notados até que se tornem tão frequentes que causem um prejuízo significativo à vida da pessoa.
A Bulimia Nervosa também pode causar alterações físicas:

*Garganta constantemente inflamada

*Aumento do volume das glândulas parótidas, localizadas no pescoço.

*Alterações no esmalte dos dentes causadas pelo ácido contido nas secreções do estômago, tornando os dentes amarelados

*Halitose ("mau hálito")

*Problemas intestinais pelo uso exagerado de laxantes

*Problemas renais causados pelo uso de diuréticos
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Cláudia Maria Piasecki
Psicóloga Clínica CRP 08/10847
Psicologia do Emagrecimento - Rafcal

O SEXO NÃO É INÓCUO



por Betty Milan
www.veja.com/bettymilan


"A possibilidade de nos satisfazermos sexualmente era o que mais desejávamos. E, sendo jovens, além de revolucionários, não conseguíamos avaliar o lado negativo do nosso culto ao Deus gozo"


Lembro sem saudade de maio de 68 que Paris exportava e nós, paulistas, secundávamos na Universidade de São Paulo, mais precisamente na Rua Maria Antônia, onde tomamos as salas de aula para os nossos propósitos libertários e o sexo rolava solto. Aquele maio não foi só uma festa, foi também o tempo do aborto clandestino e da doença venérea que o ginecologista diagnosticava dando graças aos céus que a penicilina existia: "Comece a tomar imediatamente."
Nós endeusávamos o gozo, como os hebreus endeusavam o bezerro de ouro. Éramos contrários ao materialismo, mas servos do sexo e do êxtase que ele nos propiciava. Sem saber, confundíamos o apego ao gozo com a liberdade. Não sabíamos nem queríamos saber, já que, depois de séculos de repressão, a liberação sexual era urgente. Nós éramos "revolucionários", e nenhuma consideração contrária aos nossos propósitos nos interessava.
A possibilidade de nos satisfazermos sexualmente como bem entendêssemos era o que mais desejávamos. E, sendo jovens, além de revolucionários, não estávamos em condições de avaliar o lado negativo do nosso culto ao Deus gozo, que nem a aids conseguiu abalar. Raros foram os que adotaram logo as medidas preventivas recomendadas e muitos os que fizeram pouco delas, inclusive médicos e psicanalistas. Testemunhei o descaso com horror.
O sexo não é inócuo, não é propriamente um cordeirinho do bom pastor, e a liberdade conquistada nos anos 60 impõe o "não" ao outro e a si mesmo. Quer dizer, para que a sexualidade não seja uma negação da vida, a liberdade impõe a contenção. Quando não há mais proibição externa, cabe a cada um colocar o limite para o outro e para si. Não é fácil, porque não somos educados para nos conter. Pelo contrário, a sociedade em que vivemos incita à desmesura. O que é o problema da obesidade, a que estamos cada vez mais expostos, senão uma doença da sociedade de consumo? Nos Estados Unidos, ela é hoje uma questão social grave.
O controle da pulsão, a gente aprende na infância. A propósito disso, Montaigne escreveu nos Ensaios: "(...) os nossos maiores vícios se originam na mais tenra infância e a orientação do nosso caráter está principalmente nas mãos da babá. As mães consideram um passatempo ver a criança (...) ferir, brincando, um gato ou um cachorro. Certos pais são tolos a ponto de considerar que o fato de o filho bater (...) num criado é o feliz sinal anunciador de uma alma marcial e que enganar o companheiro, sendo maldoso e desleal, é um sinal de inteligência."
Ou seja, a educação sexual começa bem antes de a sexualidade despontar e a valorização do descontrole da criança é um crime.
Os pais podem inclusive ser responsabilizados pelo apego desmesurado do filho ao gozo, cujas consequências são sempre danosas e, ás vezes, letais.

Tomar Decisões Cansa Demais



Vanessa Prateano

Estudo mostra que capacidade de fazer escolhas diminui ao longo do dia e pode causar o que os médicos chamam de "o cansaço de decidir"

Vai tomar uma decisão importante? Não deixe para depois, se esse "depois" significar "após muitas outras decisões menos importantes". Um estudo feito por uma universidade israelense demonstrou o que muita gente já notou na prática: quanto mais decisões tomamos ao longo do dia, mais cansados ficamos, e maiores são as chances de não tomarmos decisão alguma ou então nos arrependermos pela escolha errada.
O fenômeno, chamado de desision fatigue, em inglês, ou "o cansaço da decisão", foi descrito após o estudo, realizado pela Ben Gurion University em parceria com a Universidade de Stanford (EUA), notar que juízes israelenses que participaram da pesquisa tinham mais chances de negar o pedido de liberdade aos presos quanto mais tarde fosse realizada a audiência de análise do pedido, chamada de parole board.
Em um episódio, um juiz deu parecer diferente a dois casos iguais (mesmo crime e mesma pena). Um, analisado às 8h50, foi deferido, ao passo em que outro, analisado às 16h25, após vários outros, foi negado. Os pesquisadores analisaram 1,1 mil decisões e observaram que 70% dos pedidos analisados no começo da manhã foram deferidos; no fim da tarde, o índice de pedidos concedidos caiu para 10%.
Estoque limitado
A ideia de que quanto mais decisões tomamos, num curto espaço de tempo, mais preparados ficamos para tomar as próximas, não se confirmou. De acordo com os pesquisadores, isso acontece porque nossa capacidade de tomar decisões é limitada, e o "estoque" de autocontrole necessário para tanto diminui conforme é usado.
As consequências seriam duas: a de agir impulsivamente, para acabar logo com o "tormento", ou não fazer coisa alguma, adiando a decisão. No caso dos juízes, o pedido muitas vezes era negado para que o magistrado tivesse a chance de analisá-lo com mais calma num outro momento. em outros casos, porém, esse tempo não é possível.
"A atividade mental cansa tanto quanto a atividade física e isso pode ser facilmente notado no final de um dia de trabalho. Isso explica porque grande parte dos acidentes ocorre no final da tarde, assim como os erros médicos, que geralmente ocorrem no fim de um plantão longo", observa o neurologista e professor de Medicina da Universidade Estadual paulista (Unesp) Fernando Coronetti. "Em qualquer atividade continuada, como tomar decisões a toda hora, o rendimento cai e se instaura essa fadiga."
E por que isso acontece? De acordo com o neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia, Luiz Carlos Benthien, como um carro, o cérebro precisa de combustível para funcionar. A gasolina ou álcool, neste caso, é a energia produzida pela quebra da glicose, que libera oxigênio no interior das células e permite a atividade cerebral. Como qualquer motorista sabe, o combustível não é infinito; o mesmo acontece com a energia da mente.
"Ao longo do dia, a tua reserva de neurotransmissores não trabalha com a mesma capacidade daquela com a qual você iniciou o dia. Ela se esgota com o processo de tomada de decisões, que quanto mais complexo, mais energia e capacidade de autocrítica vai exigir", explica o médico.
Justiça
A responsabilidade de mudar vidas
O exemplo dos juízes não foi tomado por acaso pelo estudo. A carga de responsabilidade que envolve as decisões de um magistrado é considerável-declarar alguém inocente ou culpado, decidir entre uma multa ou a prisão, dar a guarda de uma criança ao pai ou à mãe são algumas delas. E a existência de leis, que orientam tais decisões, não é o suficiente para impedir a manifestação da angústia e da insegurança.
Com 22 anos de profissão, o desembargador Gil Fernandes Guerra, que hoje preside a Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), conta que ainda sente o peso da responsabilidade sobre os ombros na hora de julgar os processos. "Não basta decidir, é preciso ser justo. Não é uma decisão qualquer e, dependendo do caso, se a pessoa está presa, por exemplo, é preciso ter pressa. E na nossa profissão é quase impossível deixar para depois."
Para ele, a rotina extenuante pode influenciar no julgamento e é preciso criar hábitos que evitem a tomada de decisões em momentos críticos. Ele opta, por exemplo, por levar trabalho para casa. "Gosto de trabalhar de madrugada, e costumo analisar só um tipo de processo de cada vez. No gabinete, prefiro momentos mais silenciosos, geralmente pela manhã."


"Tão bom viver dia a dia. A vida assim jamais cansa. E só ganhar, toda a vida, inexperiência, esperança. Nada jamais continua, tudo vai recomeçar!" __Mário Quintana

A ENGENHARIA DO AUTISMO




Marcela Buscato

Revista Época







Quem é o psicólogo britânico que decidiu procurar entre profissionais da área de exatas as origens do transtorno que afeta a habilidade de se comunicar







Eindhoven é o principal polo de tecnologia da Holanda. A cidade de 270 mil habitantes concentra duas importantes universidades tecnológicas e dezenas de indústrias de olho nos cérebros privilegiados formados lá. Nos últimos anos, as autoridades de saúde da cidade começaram a se dar conta de uma mudança.

Não havia nenhum levantamento oficial, mas os especialistas tinham a sensação de atender mais crianças com autismo, um transtorno de desenvolvimento que atinge principalmente meninos e afeta a habilidade de relacionamento e comunicação.

Os boatos despertaram a atenção do psicólogo britânico Simon Baron-Cohen, de 53 anos, diretor do Centro de Pesquisa em Autismo da Universidade de Cambridge.

Baron-Cohen está longe de ser um oportunista. É sempre cauteloso ao explicar a dimensão de suas descobertas. Mas tampouco foge de controvérsias.

Para Baron-Cohen, o aumento de crianças com autismo, possivelmente o caso de Eindhoven, deve-se ao casamento entre pessoas com tendências autistas. Todo mundo conhece alguém assim: é o amigo da faculdade ou do trabalho com interesses muito específicos (pode ser organizar sua coleção de livros sobre trens ou colecionar espécies de um gênero de orquídea). Ele percebe facilmente padrões dispersos pelo cotidiano, como a sequência de funcionamento de semáforos de uma avenida, e não tem muitos amigos. Segundo Baron-Cohen, pessoas com esse perfil escolhem profissões que aproveitem essa facilidade para captar padrões. Tornam-se engenheiros, matemáticos, físicos, cientistas da computação. "Não estou dizendo que todos os engenheiros e matemáticos são autistas", afirmou a ÉPOCA Baron-Cohen. "Mas é comum que, entre esses profissionais, existam mais pessoas com características compatíveis com autismo."

Esse tipo de habilidade está presente em todos nós, em maior ou menor grau. Entre os autistas, estaria absolutamente fora do normal. Alguns são capazes de criar fórmulas matemáticas para calcular em que dia da semana caiu uma data passada e quando cairá no futuro. Nos profissionais das ciências exatas, "grandes sistematizadores", segundo Baron-Cohen, essa capacidade estaria na fronteira entre o normal e o fora do comum. "Talvez, eles tenham apenas alguns dos genes do autismo e manifestam só algumas características", diz. Como são atraídos por um tipo específico de profissão, se concentrariam em polos tecnológicos, onde conheceriam mulheres com interesses semelhantes e, provavelmente, também com alguns dos genes do autismo. Ao se casarem, teriam filhos autistas ao unir suas cargas genéticas.

O caso de Eindhoven parecia a oportunidade perfeita para Baron-Cohen reunir evidências em favor de sua tese. Ele pediu que as escolas da cidade informassem o número de crianças autistas matriculadas. Fez o mesmo com escolas de outras duas cidades holandesas de tamanho semelhante-Haarlem e Utrecht-, mas cujas economias não são baseadas no setor tecnológico. A conclusão do estudo, divulgado há pouco mais de dois meses em uma importante publicação sobre autismo, parece confirmar as suspeitas de Baron-Cohen. Em Eindhoven, há entre duas e quatro vezes mais casos do que em Haarlem e Utrecht. A pesquisa foi a primeira a comparar a prevalência de autismo em um polo tecnológico com cidades de perfil econômico diferente. E, portanto, a provar cientificamente a relação. Mas a suspeita não é nova.

O primeiro caso a chamar a atenção foi o da Califórnia, Estados Unidos. O Estado engloba o Vale do Silício, região que concentra algumas das principais empresas de tecnologia do mundo, como o Facebook, o Google e a Apple. Entre 1987 e 2007, segundo estatísticas do governo americano, o número de diagnósticos de autismo aumentou 1.148%. A população cresceu só 27%. A ideia de que os pais de crianças com autismo tenham formas atenuadas da condição paira sobre o campo da psiquiatria desde o final da década de 1980.

Mas foi Baron-Cohen que tomou para si a tarefa de provar ou refutar a teoria. Em sua busca pelas origens do autismo, já analisou milhares de familiares de matemáticos e engenheiros. As conclusões reforçam sua tese. Entre 1.405 parentes de estudantes de matemática, ele encontrou sete casos de transtornos semelhantes ao autismo. Nas famílias de universitários de outras áreas, achou apenas dois. Em um estudo com crianças autistas, a probabilidade de que o pai da criança ou um dos avôs fosse engenheiro era duas vezes maior.

A teoria, claro, é polêmica. "Esses achados precisam ser reproduzidos por outros estudos para que sejam considerados', diz a psiquiatria Letícia Amorim, da Associação de Amigos do Autista. Os cientistas não tem certeza nem das origens genéticas do autismo. Não sabem se o transtorno é causado por dois ou 200 genes. Logo, é difícil procurar por eles entre matemáticos e engenheiros. Além disso, existe a dificuldade de fazer o diagnóstico.

Há um espectro de condições relacionadas ao autismo, algo parecido com uma escala. Pessoas com as formas mais graves têm quociente menor de inteligência, não desenvolvem a linguagem e não conseguem se relacionar. Na outra ponta da escala, os pacientes podem ter o quociente de inteligência acima da média da população e menos dificuldade para interagir socialmente. Baron-Cohen acredita que os físicos Albert Einstein e Isaac Newton, criadores das teorias que explicam o Universo, estavam nesse extremo do espectro, uma síndrome conhecida como Asperger. Em alguns casos, a fronteira entre a síndrome e o considerado "normal" é tão tênue que é difícil saber se pais de crianças autistas, possivelmente os matemáticos e engenheiros da teoria de Baron-Cohen, também não são eles mesmos Aspergers. Isso torna ainda mais complicado provar a teoria das tendências autistas.

Baron-Cohen diz que toda essa polêmica é por bons motivos. Porque ajuda os especialistas a entender como os autistas pensam e a refinar estratégias de aprendizagem destinadas a crianças com o transtorno. Além disso, serviria para mudar o olhar da sociedade. "Ao mostrar que esses traços podem estar presentes em profissionais, percebemos que o autismo engloba habilidades e até talentos", diz.