quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Tomar Decisões Cansa Demais



Vanessa Prateano

Estudo mostra que capacidade de fazer escolhas diminui ao longo do dia e pode causar o que os médicos chamam de "o cansaço de decidir"

Vai tomar uma decisão importante? Não deixe para depois, se esse "depois" significar "após muitas outras decisões menos importantes". Um estudo feito por uma universidade israelense demonstrou o que muita gente já notou na prática: quanto mais decisões tomamos ao longo do dia, mais cansados ficamos, e maiores são as chances de não tomarmos decisão alguma ou então nos arrependermos pela escolha errada.
O fenômeno, chamado de desision fatigue, em inglês, ou "o cansaço da decisão", foi descrito após o estudo, realizado pela Ben Gurion University em parceria com a Universidade de Stanford (EUA), notar que juízes israelenses que participaram da pesquisa tinham mais chances de negar o pedido de liberdade aos presos quanto mais tarde fosse realizada a audiência de análise do pedido, chamada de parole board.
Em um episódio, um juiz deu parecer diferente a dois casos iguais (mesmo crime e mesma pena). Um, analisado às 8h50, foi deferido, ao passo em que outro, analisado às 16h25, após vários outros, foi negado. Os pesquisadores analisaram 1,1 mil decisões e observaram que 70% dos pedidos analisados no começo da manhã foram deferidos; no fim da tarde, o índice de pedidos concedidos caiu para 10%.
Estoque limitado
A ideia de que quanto mais decisões tomamos, num curto espaço de tempo, mais preparados ficamos para tomar as próximas, não se confirmou. De acordo com os pesquisadores, isso acontece porque nossa capacidade de tomar decisões é limitada, e o "estoque" de autocontrole necessário para tanto diminui conforme é usado.
As consequências seriam duas: a de agir impulsivamente, para acabar logo com o "tormento", ou não fazer coisa alguma, adiando a decisão. No caso dos juízes, o pedido muitas vezes era negado para que o magistrado tivesse a chance de analisá-lo com mais calma num outro momento. em outros casos, porém, esse tempo não é possível.
"A atividade mental cansa tanto quanto a atividade física e isso pode ser facilmente notado no final de um dia de trabalho. Isso explica porque grande parte dos acidentes ocorre no final da tarde, assim como os erros médicos, que geralmente ocorrem no fim de um plantão longo", observa o neurologista e professor de Medicina da Universidade Estadual paulista (Unesp) Fernando Coronetti. "Em qualquer atividade continuada, como tomar decisões a toda hora, o rendimento cai e se instaura essa fadiga."
E por que isso acontece? De acordo com o neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia, Luiz Carlos Benthien, como um carro, o cérebro precisa de combustível para funcionar. A gasolina ou álcool, neste caso, é a energia produzida pela quebra da glicose, que libera oxigênio no interior das células e permite a atividade cerebral. Como qualquer motorista sabe, o combustível não é infinito; o mesmo acontece com a energia da mente.
"Ao longo do dia, a tua reserva de neurotransmissores não trabalha com a mesma capacidade daquela com a qual você iniciou o dia. Ela se esgota com o processo de tomada de decisões, que quanto mais complexo, mais energia e capacidade de autocrítica vai exigir", explica o médico.
Justiça
A responsabilidade de mudar vidas
O exemplo dos juízes não foi tomado por acaso pelo estudo. A carga de responsabilidade que envolve as decisões de um magistrado é considerável-declarar alguém inocente ou culpado, decidir entre uma multa ou a prisão, dar a guarda de uma criança ao pai ou à mãe são algumas delas. E a existência de leis, que orientam tais decisões, não é o suficiente para impedir a manifestação da angústia e da insegurança.
Com 22 anos de profissão, o desembargador Gil Fernandes Guerra, que hoje preside a Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), conta que ainda sente o peso da responsabilidade sobre os ombros na hora de julgar os processos. "Não basta decidir, é preciso ser justo. Não é uma decisão qualquer e, dependendo do caso, se a pessoa está presa, por exemplo, é preciso ter pressa. E na nossa profissão é quase impossível deixar para depois."
Para ele, a rotina extenuante pode influenciar no julgamento e é preciso criar hábitos que evitem a tomada de decisões em momentos críticos. Ele opta, por exemplo, por levar trabalho para casa. "Gosto de trabalhar de madrugada, e costumo analisar só um tipo de processo de cada vez. No gabinete, prefiro momentos mais silenciosos, geralmente pela manhã."


"Tão bom viver dia a dia. A vida assim jamais cansa. E só ganhar, toda a vida, inexperiência, esperança. Nada jamais continua, tudo vai recomeçar!" __Mário Quintana

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