sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sexo : Produto de consumo




Este tema intrincado, permeado de tabus e na grande maioria das vezes tratado com humor, tem sido evitado em sua profundidade. Continua sendo um ‘não dito’, embora inevitavelmente sentido em sua problemática constituição subjetiva. Freud investigou as causas e desdobramentos das neuroses como pensamentos e desejos reprimidos, conflitos sexuais referentes aos primeiros anos de vida, ou seja, na fase da infância, os quais marcam o indivíduo na estruturação da personalidade, aparecendo como sintoma na vida adulta. Esse conceito teve grandes repercussões na sociedade da época, na qual a repressão sexual era a principal causa das histerias. Estava, então, formada a teoria da sexualidade, postulada com o processo psicossexual e dinâmicas inconscientes.
Os tempos são outros, mas o ser humano continua o mesmo. A sociedade atual, bem como as transformações que ela exige, apenas passa a impressão de ter excluído os “arquivos secretos”. Os apelos sexuais estão escancarados na mídia. É como se “não tem sexo, não tem graça”, porém, como existem transições no desenvolvimento sexual, existem também inúmeros conflitos que dão origem a neuroses que, se podem dizer também, adaptadas à vida moderna. Indivíduos que não sabem lidar com as distorções dos meios de comunicação e com problemas existenciais marcados pela insuficiência de um desenvolvimento sexual satisfatório, embarcam nessa onda e são devorados por ela. A exposição, o narcisismo, o excessivo culto ao corpo, o desejo da perfeição, da beleza, da eterna juventude passam longe dos limites da vida saudável! Tudo pelo desejo insano de seduzir, de ser visto, desejado, consumido pela aparência e tornam-se verdadeiros “produtos de consumo”, quando a essência já se esvaiu ou nunca existiu.
Beleza é fundamental! Mas, com todo respeito à arte e ao nosso querido poeta Vinícius de Moraes, será que quem não possui certos atributos naturais deve ser jogado num depósito imaginário, ou nem tanto, de excluídos? Dentro de uma veia também poética, a beleza está nos olhos capazes de enxergar a alma!
O que ressalto aqui são os excessos que são os comportamentos patológicos. As compulsões que tentam esconder sentimentos de medo do desamparo e da solidão, enquanto, envolvidos nesse lúdico do hedonismo, as pessoas não se dão conta de que suas fragilidades se constituem nas relações primordiais. O que o indivíduo busca é nada mais que o reencontro com um elo perdido. Tanto que o que “consome” ou o que é “consumido” estão envoltos e entrelaçados pelo sintoma e por um ciclo difícil de ser interrompido, pois há a perpetuação da desestruturação passando para as gerações seguintes.
Pessoas fogem de sua dor de existir, na busca incessante de relações vazias, efêmeras, fazendo do sexo patológico – escudo para presumir que estão vivos pelo simples fato de serem desejados e isso denota pelo menos dois medos, o de morrer e o de ser feliz. É um vale tudo que distancia cada vez mais o equilíbrio, a sensatez. Ereções químicas, orgasmos produzidos ou simulados, tudo ensinado em cursos de sedução, como se o ser humano necessitasse de um manual ou de receitas para sensações e para a felicidade. É uma busca pelo estado de consciência alterado que o orgasmo proporciona, porém, como não é possível mantê-lo, a compulsão compensa pela repetição, alimentando o ciclo do prazer temporal, frustração e depressão.
A sexualidade está presente em todas as fases da vida. É energia vital, mas como reverter os atuais padrões que se chocam com a verdadeira natureza do homem sem rasgar o pano de fundo do exagero, sem expor componentes patológicos do exibicionismo, voyeurismo, narcisismo e tantos outros comportamentos perversos, nocivos, antissociais e até criminosos?! Se em outros tempos a repressão causava danos, hoje a trivialidade, a comercialização do erotismo, é responsável por neuroses adaptadas à modernidade. A erotização infantil é um verdadeiro crime! O homem se perdeu em seu contexto ético.
Realmente não há mais necessidade de arquivos secretos. Mas, há sim necessidade de relações saudáveis, de envolvimento, admiração, respeito, cumplicidade e descobertas do quanto o sexo é infinitamente bom quando vai além do físico; o quanto o sexo está ligado a beleza da realização de dois corpos, duas almas e dois corações num compasso uníssono e o quanto isso tudo é essencial. Romantismo? Talvez! Mas não em excesso! A sugestão é o equilíbrio, a reflexão, o senso crítico!
Segundo Freud: “A renúncia progressiva dos instintos parece ser um dos fundamentos do desenvolvimento da civilização humana.” E ainda: “É preciso amar para não adoecer.”
Se o amor for extinto, a humanidade corre o risco das ações do instinto.
Ainda há tempo!

Ana Maria Ferreira de Paula- 20/04/2010
Psicóloga Clínica.
Rua: Jorge Mansos do Nascimento Teixeira,210. Sala 01.
3398-9315. São José dos Pinhais.

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