sábado, 16 de março de 2013

Encontros impossíveis

por Cláudia Piasecki
Desde os tempos mais remotos o ser humano sempre esteve em busca de aconchego, de afeto, de compreensão, admiração, de ser olhado, percebido, e amado. Essa busca é materializada pelo encontro amoroso, e é feita por todos nós, pois, como sugere a psicanálise, estamos em busca do "objeto perdido". Estamos numa época onde o encontro amoroso está cada vez mais escasso, no lugar do amor de investimento, de vínculo percebemos que a maioria das pessoas está em busca de relacionamentos passageiros, onde não é necessário se preocupar com o outro, pois presume-se que o outro também não deseja investir, ou construir um vínculo. O enamoramento está sendo sepultado, o romantismo, este é tachado de caretice, coisa de gente "grudenta". Mesmo assim, com toda essa aparente "frieza", essa falta de cuidado com o sentimento do outro (o que conta é a vontade, se quero ficar com alguém, não significa que amanhã essa vontade permanecerá, pois amanhã posso conhecer alguém diferente e não menos interessante) a grande maioria ainda anseia pelo encontro amoroso. Conhecer "aquela pessoa". Os tempos mudaram e os costumes também, a mulher é mais livre e bem como o homem está no "mercado relacional" com uma grande gama de possibilidades, e quando se tem várias possibilidades de escolha, o sentimento de solidão só aumenta, ao contrário do que a ideia de quantidade sugere, e o encontro amoroso torna-se impossível. Costumo dizer que tenho uma "teoria", as mulheres por mais que pareçam desinteressadas, ou "descoladas", "bem resolvidas", estão sempre dispostas a criar vínculo e namorar e/ou até casar. Quando uma mulher conhece um homem que lhe interessa de forma especial, por uma série de peculiaridades, ela estará sim disponível para o amor. Recentemente assisti ao filme "Amizade Colorida", com Justin Timberlake. Na trama o casal de amigos decide ter uma amizade com "benefícios". É claro que acabam se apaixonando, pois descobrem ter várias afinidades. Como o combinado era serem apenas amigos, (pois ambos já tinham passado por histórias de amor frustradas e não queriam mais sofrer) decidiram cada qual tomar seu caminho e conhecer alguém para namorar, mas aí já era tarde demais, estavam apaixonados. Para exemplificar "minha teoria", na história do filme é ela, que demonstra primeiro que não quer mais ser só amiga com "benefícios", se mostra interessada em compromisso, não que ele não esteja, mas ele cumpre aparentemente o combinado. Ela se sente usada e não compreendida, como na vida real acontece com a maioria das mulheres, que não entendem porque aquele rapaz bonito e gentil não liga mais para elas depois de dois ou três encontros. Os encontros amorosos estão cada vez mais difíceis de acontecer porque as pessoas estão muito individualistas e com medo de perder sua liberdade, e também porque as pessoas são extremamente narcisistas, querem alguém à sua altura e medida, ou seja, não aceitam as diferenças. Vão logo querendo mudar aquilo que incomoda e atrapalha no outro. Ora, Narciso não morreu justamente porque se apaixonou pela sua própria imagem (o Narciso se lança a si mesmo, e isso é mortal)? Não existe no indivíduo (o Outro), uma unidade que se compare ao "eu". Procurar o Outro é aceitar o Outro na sua diferença. Quando eu procuro a metade, procuro a mim mesmo. Nas relações amorosas procuramos "o ideal", mas sabemos que o ideal não existe, sendo assim, estamos infelizmente fadados a ter um final como o de Narciso (morrer simbolicamente para o enamoramento). Como diz Caetano Veloso em sua música "Sampa" : "...é que Narciso acha feio o que não é espelho...". Devemos tentar exercitar a empatia no amor, e não a destruição da imagem do Outro para o nosso deleite. Segundo Flávio Gikovate o anseio amoroso é muito simples: visa apenas ao estabelecimento de um vínculo sólido e sereno com outra pessoa, que, hoje, é escolhida para esse papel pelo próprio interessado. É possível ser livre, viver sua individualidade de forma saudável e usufruir de um encontro amoroso satisfatório e também saudável. Mas é claro, primeiro temos que estar dispostos a isso, e segundo temos que agir de acordo com nossas convicções, sem olharmos muito para os lados, pois os amigos, e as pessoas em geral, sempre tem um "conselho", ou uma ressalva quanto ao(a) seu (sua) companheiro (a). A pergunta que eu faço é: Você está feliz? Respondo: Então, siga em frente. Seja sozinho, ou acompanhado. ___________________________________________________________________ Cláudia Maria Piasecki Psicóloga Clínica CRP 08/10847 9856-8944 www.claudiapiasecki.blogspot.com

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