quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

MARKETING DO DESEJO



POR LUIZ FELIPE PONDÉ

"MAIS IMPORTANTE DO QUE O SUCESSO É PASSAR UMA IMAGEM DE SUCESSO." VOCÊ PODE OUVIR UMA FRASE COMO ESTA EM QUALQUER PALESTRA BREGA DE MOTIVAÇÃO EM RECURSOS HUMANOS.
JÁ DISSE ANTES QUE ACHO PALESTRAS ASSIM A COISA MAIS BREGA QUE EXISTE. MAIS BREGA DO QUE ISSO SÓ MESMO ACHAR QUE O MUNDO MELHOROU PORQUE EXISTE O FACEBOOK.
A MELHOR FORMA DE MANTER A DIGNIDADE NA ERA DO FACEBOOK (SE VOCÊ NÃO RESISTIR A TER UM) É NÃO CONTAR PARA NINGUÉM QUE VOCÊ TEM UM FACEBOOK. QUASE TUDO É BOBAGEM NAS REDES SOCIAIS PORQUE O SER HUMANO É BANAL E VIVE UMA VIDA QUASE SEMPRE MONÓTONA E PREVISÍVEL.
E A MONOTONIA É O TRAJE COTIDIANO DO VAZIO E A ROTINA É O MODO CIVILIZADO DE ENFRENTAR O CAOS, OUTRA FACE DO VAZIO.
A IDEIA DE QUE APRENDEMOS A FALAR PORQUE QUISEMOS "CONHECER" O MUNDO É FALSA. SEGUNDO OS EVOLUCIONISTAS, É MAIS PROVÁVEL QUE TENHAMOS APRENDIDO A FALAR PARA FALARA MAL DOS OUTROS E FOFOCAR.
O "FACE" É, NESTE SENTIDO, UM ARTEFATO PALEONTOLÓGICO QUE PROVA QUE NADA MUDOU.
SEMPRE SE SOUBE QUE NÃO BASTA À MULHER DE CESAR SER HONESTA, ELA TEM QUE PARECER HONESTA, PORTANTO, A IMAGEM DE HONESTA É MAIS IMPORTANTE DO QUE A HONESTIDADE EM SI. MAS AQUI, O FOCO É DIFERENTE: AQUI A QUESTÃO É A HIPOCRISIA COMO SUBSTÂNCIA DA MORAL PÚBLICA. TODO MUNDO SABE QUE A MENTIRA É MOLA ESSENCIAL DO CONVÍVIO CIVILIZADO.
NO CASO DE FRASES COMO A CITADA NO PRIMEIRO PARÁGRAFO, COMUM EM PALESTRAS DE MOTIVAÇÃO EM RECURSOS HUMANOS, É QUE SÃO OFERECIDAS COMO "VERDADES CONSTRUTIVAS DE COMPORTAMENTO". E NÃO COMO O QUE VERDADEIRAMENTE SÃO: ESTRATÉGIAS PARA DESGRAÇADOS E "LOSERS" SE SENTIREM MELHOR.
FICAMOS COVARDES. FOSSE ESTA GERAÇÃO DE JOVENS EUROPEUS (QUE SÓ SABEM PEDIR DIREITOS E IPADS) QUE TIVESSE QUE ENFRENTAR HITLER, ELE TERIA GANHADO A GUERRA.
PROVAVELMENTE ESSES ESTRAGADOS POR DÉCADAS DE "ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL" TERIAM DITO "NÃO À GUERRA EM NOME DA PAZ." GRANDE PARTE DO ESTRAGO QUE HITLER FEZ NO INÍCIO FOI CAUSADA POR GENTE QUE GOSTAVA DE DIZER QUE A PAZ SEMPRE É POSSÍVEL. GENTE MEDROSA MESMO.
MAS NOSSA ÉPOCA, COMO EU COSTUMAVA DIZER MUITAS VEZES, É A ÉPOCA DO MARKETING DO COMPORTAMENTO.
A "CIÊNCIA DA MENTIRA DOS LOSERS". DENTRO DESSA DISCIPLINA GERAL, EXISTE O MARKETING DO DESEJO, ESPECIALIZADO EM MENTIR PARA AS PESSOAS DIZENDO QUE "SIM, CONFIE NO SEU DESEJO QUE TUDO DARÁ CERTO".
MESMO ALGUNS PSICANALISTAS EMBARCARAM NESSE OTIMISMO DE CLASSE MÉDIA.
"NUNCA TRAIA SEU DESEJO", DIRÃO.
SABE-SE MUITO BEM QUE É O DESEJO QUE NOS TRAI PORQUE ELE ESTÁ E VAI ALÉM DO QUE, MUITAS VEZES, CONSEGUIMOS SUPORTAR.
UMA DAS GRANDES TRAGÉDIAS DE NOSSO TEMPO É O FATO DE QUE NÃO EXISTEM MAIS RECURSOS "SIMBÓLICOS" PARA AQUELES QUE RESISTEM AO DESEJO EM NOME DE "UM BEM MAIOR", COMO NO CASO DA FAMÍLIA, DO CASAMENTO, OU SIMPLESMENTE RESISTIR A VIRAR CANALHAS COM DESCULPAS DO MARKETING.
O LEGAL É SER "ESCROTO" SE DIZENDO "LIVRE".
A "ÉTICA DO DESEJO", QUE RECUSA ABRIR MÃO DO PRÓPRIO DESEJO EM NOME DE ALGO MAIOR DO QUE ELE, DESTRUIU A NOÇÃO DE CARÁTER.
PARA A MOÇADA DO MARKETING DO DESEJO RESISTIR AO DESEJO É COISA DE GENTE IDIOTA E MAL RESOLVIDA PORQUE TER CARÁTER NÃO DEIXA VOCÊ MUITO FELIZ O TEMPO TODO.
É VERDADE QUE RESISTIR AO DESEJO NÃO GARANTE FELICIDADE ALGUMA, MAS UMA CULTURA DOMINADA PELA IDEIA DE FELICIDADE É UMA CULTURA DE FROUXOS.
MAS OUTRA VERDADE, NÃO MENOR DO QUE A ANTERIOR, É QUE O DESEJO PODE SER UM COMPANHEIRO TRAIÇOEIRO. A AFETAÇÃO DA FELICIDADE FAZ DE NOS RETARDADOS MENTAIS. EU NUNCA CONFIO EM GENTE FELIZ.
O MESTRE FREUD DIZIA QUE O DESEJO É DESEJO DE MORTE. AFIRMAÇÃO DURA. MAS O QUE ELA CARREGA EM SI É O QUE JÁ SABEMOS: O DESEJO NOS APROXIMA DO NADA (MORTE) PORQUE DESVALORIZA TUDO O QUE TEMOS. POR ISSO, QUANDO MOVIDOS POR ELE, SEM O CUIDADO DE QUEM SE SABE PARTE DE UMA ESPÉCIE LOUCA FLERTAMOS COM O VALOR ZERO DE TUDO.
NADA DISSO SIGNIFICA ABRIR MÃO DO DESEJO, MAS SIM SABER QUE ELE NOS FAZ ANIMAIS QUE CAMINHAM SOBRE TUMBAS QUE SORRIEM PARA NÓS COMO MULHERES FÁCEIS. RESISTIR AO DESEJO TALVEZ SEJA UMA DAS FORMAS MAIS DISCRETAS DE AMAR A VIDA.

LUIZ FELIPE PONDÉ
filósofo
ponde.folha@uol.com.br

Um comentário:

  1. Bem postado, mais uma vez, um artigo de interesse maior, escrito desta vez por um filósofo.Entendo que Luiz Felipe traz um tema emergente, e desenvolve o assunto importante, muito embora com ressalvas, pelo que peço permissão para colocar:
    - freudianamente falando, o desejo é o ímpeto natural que nos faz poder sair do colo da mãe e começar a engatinhar, até levantar e caminharmos com as próprias pernas. Também, quanto aos desejos, a repressão aos experimentos com seu próprio corpo – comuns a todo novo ser – irão repercutir negativamente pelo resto da vida. Num momento logo mais adiante, a criança necessitará receber que denominamos limites, cerceamento que já havia acontecido na fase anterior (o bebe quer mais atenção que a necessária, e um dos subterfúgios será, p. ex. jogar um chocalho no chão, em frente a quem está com ele; contra-indicado, já na tenra idade, buscar o objeto que foi lançado, imediatamente), e que seguirá por um processo de preparação para a vida, e mais importante, ainda, na fase da puberdade, momento difícil para o adolescente numa sociedade que por natureza seria tribal, onde o conceito de família não existe como no legado romano (que vem sendo desmontado), onde o mais alto valor é a preservação da tribo, onde há a definição dos papéis para os gêneros e faixas etárias, sempre levando em conta as leis naturais.
    - vivemos numa era tecnológica, onde a maioria da humanidade se aglomera em grandes concentrações urbanas, e perdemos a noção de escala, proporção, e o que temos como noção de ambiente natural é apenas simbólico. Crescemos dentro de uma sistema doentio, não-natural, e deixaram de ser criadas condições suficientes para habitar este ‘novo mundo’, que por interesses de um sistema globalizado, tem por bandeira uma palavra detestável – felicidade – que é a mola propulsora para a produção, a venda e consumo que satisfaçam, como bem colocou o filósofo, o desejo, palavra-chave de todo o marketing. Daí decorre as neuroses, as doenças, senão a desordem definitiva e mais perigosa do ser: a psicopatia. Perigosa, porque sutil, porque aceitável, porque não discutida na sociedade. E a psicopatia nada mais é que o conjunto: narcisismo levado aos extremos, a frieza - ou o puro raciocínio – e a total falta de escrúpulos com relação a outrem, a não ser que convenha. Devido a este âmbito, e com a população aumentando, há cada vez mais doentes ‘aceitáveis’ tomando as rédeas da humanidade, contaminando o núcleo familiar, o seu condomínio, seu bairro, a cidade, o país, o planeta. Diante de tanta ambição (ver ‘2001, Uma Odisséia no Espaço’), encontramos no povo simples o que restou de humildade, face a arrogância do homos faber, que na verdade é o que a maioria ainda é, e não o é por acaso !
    Encerrando, é preciso aqui, e cada vez mais, mudar o foco de clichês como Hitler, p. ex., sob pena de sempre se pensar que maus seres estão distantes de nós (de mais a mais, Hitler é fruto de um processo histórico, que envolve todo o Ocidente, sem exceções, assim como o anti-semitismo nunca foi uma questão de ordem unicamente de uma nação, em específico, e muito do leste europeu, também, só que a história oficial omite tal verdade; no mais, lembram quando os judeus foram expulsos da Espanha, e depois de Portugal, quando das Grandes Navegações, e estes mesmos foram os que descobriram o Novo Mundo, além de colonizá-lo e também traficar escravos africanos ?!).
    Sim. O que necessitamos, com urgência, e de usar os maus exemplos que estão aí, bem próximos de cada um, a governar neo-colonialisticamente nosso país. É preciso coragem: desejo consciente, legitimo e maduro, para isto !

    ResponderExcluir